quinta-feira, 12 de junho de 2008

presente

Há um tempo atrás eu tava na casa do meu tio assistindo "House".
Não sou muito de assistir seriados e nem tenho TV por assinatura pra isso.
Mas estava lá a TV ligada, e eu meio que fui fisgada, numa olhadela pra tela, por uma ou duas frases sarcásticas muito bem colocadas - adoro as sarcásticas inteligentes!...
Aí fiquei lá, assistindo, até que, num determinado momento, eis que vem: "... dar presentes nos mostra o quanto nós não conhecemos as pessoas..."...
Tá certo que a trama fazia com que isso tivesse um contexto que justificava a frase de uma maneira muito mais completa do que citá-la 'papagatoriamente' como estou fazendo, mas enfim... Acho que ainda assim ela se torna interessante...
Interessante porque é, simplesmente!... Pessoas que lidamos todo dia, que adoramos, mas que, simplesmente, desconhecemos. Não entendemos bem o que elas gostam, o que elas querem, do que precisam, com o que se divertem... E dar um presente é tentar penetrar no universo das preferências alheias. É tentar entender sua mecânica de funcionamento e conseguir perceber o que se encaixa dentro deste mundo que não é seu. É conhecer, mensurar, perceber, se dedicar a entender.
Nossa!... Dar um presente..... Só!!...
Parece tão simples.... Mas nem é!
Aliás, muito interessante a abordagem que me ocorreu agora....
Dar um presente é uma arte!... Como toda arte, pode ser reproduzida tecnicamente, mecanizada. Obviamente atende à necessidade última de dar alguma coisa, mas perde a sua aura.
Benjamin Franklin, em "A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica" fala algo similar, mas referindo-se à obras. Fala da "aura" da obra de arte. Do valor do esforço ali empenhado que sobrepõe qualquer reprodução industrial, por mais perfeita que possa ser.
E existem presentes reproduzíveis tecnicamente. Aqueles que obedecem aos clichês. Menina ganha boneca. Menino ganha bola ou carrinho. Homem ganha blusa, carteira e desodorante. Mulher ganha blusa ou brinco. E ponto. Uma coisa meio mecanizada, meio que sem sentimento. Sem uma intenção investigativa de uma preferência real.
Dar um presente é imaginar qual pecinha encaixa no tetris do outro, o que é muito difícil. E é isso que faz ser uma arte. A arte de conhecer. De perceber além do umbigo.
Ganhei pouquíssimos presentes na vida de que gostei. Menos ainda de que realmente gostei, rs. E excluo aqui aqueles presentes-necessidade que não têm como não se encaixar. Máquina de lavar, computador, ferro de passar, e tal... Essas coisas são quase um coringa no baralho, respaldadas pela necessidade básica de conferir funcionalidade à vida e atender às necessidades da rotina.
Tô falando de presentes de verdade. De presentes do coração. Ganhei pouquíssimos. Aqueles que, antes de te dar, a pessoa diz "Achei a sua cara!" e que, quando vc abre, nossa! Realmente "é" você!!... E eu não sei se fico mais feliz pela incorporação do objeto referido ao meu patrimônio ou se é pela sensação de sintonia por aquela pessoa realmente me conhecer.
Aliás, acho que fico mais feliz pela mágica da segunda, rs....
Mas, enfim... Percebo que poucas pessoas me conhecem de verdade.
Poucas sabem o que encaixa no meu mundinho.
Mas, pior do que isso.... percebo que eu conheço muito pouco as pessoas. Muito, muito, muito pouco. Fugindo dos clichês, não sei ao certo como encaixar. Não sei se é receio de não acertar e gerar incômodo pela confirmação do não conhecer ou se é incapacidade de captar de uma maneira interessante o que tem valor para o outro. Só sei que não sei dar presente. E, que ruim isso!...
Aí opto sempre pelo coringa do baralho, esquecendo que assim nunca vou ter uma canastra limpa. Opto pelo tom bege, esquecendo que com ele não se pintam arco-íris. E, poxa!!!!... Que ruim ser assim!...
Dia das mães passou e comecei a pensar a respeito disso. Dia dos namorados chegou e o pensamento se acentuou..... E aí eu vim aqui pra contar pra todo mundo que eu não sei dar presente, que não tô sabendo perceber, captar... E, com uma certa vergonha, admitir que optei pelo coringa-necessidade, que vai esconder atrás da sua fachada bem montada de utilidade real que eu não tinha a mínima idéia de qual era o formato da pecinha que podia vir a encaixar..... E que eu não tava conseguido encontrar uma melodia pra adaptar à letra que eu leio todo dia!!!.....

Nenhum comentário: