terça-feira, 30 de setembro de 2008

espetáculo

Hoje pedi para o meu filho - uma gostosurinha mirim de três anos de encanto e esperteza - colocar os chinelos pra andar no chão frio.
Eis que ele solta, com aquela vozinha magicamente doce, um "sim, sim, minha rainha", seguido do sorriso mais escancarado de quem sabe que falou uma gracinha daquelas que a gente não espera.

Vontade de morder, apertar, beijar até amassar de tanto beijo, rsrsr!

Ontem (ou ante-ontem) eu tava explicando pra ele umas coisas. Algo simples, daquelas coisas que o costume faz a gente esquecer que aprendeu um dia (parece que nasceu com a gente!) e que ensinar de novo faz a gente perceber como é mágico re-descobrir o que já virou rotina... Acho que era explicando como a gente tem que ligar o fio da caixa de som no computador pra música sair... E ele olha pra mim, com uma carinha de Sherlok Homes e diz "ahhhh! muito inte"l"essante!"..

Hahahahhaha!!!!! "Muito interessante"!!!! Vê se aquilo é gente pra achar alguma coisa muito interessante?!?!?!?!?! ..........Delícia!!!! rsrsrs...

..... Só vim contar a mágica do dia a dia! De perceber cada novidade, cada expressão, cada tiradinha brilhante!!!!!

Espetáculo ali, na cara, pra quem puder ver!!!.........

Ode à Cebola

Cebola
Luminosa redoma
pétala a pétala
cresceu a tua formosura
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra
assim te fez
cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das gentes pobres.

Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
e os estilhaços de cristal
no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.

Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate.
mas ao alcancedas mãos do povo
regada com azeite
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.
estrela dos pobres,
fada madrinha
envolvida em delicado
papel, sais do chão
eterna, intacta, pura
como semente de um astro
e ao cortar-te
a faca na cozinha
sobe a única
lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.

Eu tudo o que existe celebrei, cebola
Mas para mim és
mais formosa que uma ave
de penas radiosas
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina
baile imóvel
de nívea anémona

e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.

Neruda

sábado, 27 de setembro de 2008

eu queria tanto...

eu queria que você não quisesse.
pouco importa se você vai ou não.
o que importa é você querer ir.
e só isso, pra mim, já é desilusão.

eu queria que você não quisesse.
queria que entendesse.
que sentisse assim, como eu.

eu queria que você não quisesse.
que estar aqui valesse mais - como eu acho que devesse valer.
que estar aqui tomasse conta de tudo e que os gritos lá de fora não viessem a interceder.

porra! como eu queria que você não quisesse!
ou, ao menos, que parasse de querer.
mas parasse de querer de verdade, sem falsos dilemas pra causar impressão.

eu queria que você não quisesse.
queria que nem ligasse.
queria que estivesse tudo bem se o mundo fosse só eu e você
(porque era pra ser isso o que importa, anyway).

eu queria que você não quisesse.
que não precisasse.
que crescesse.
que se bastasse.
e que pudesse ser só eu e você.

eu queria que você não quisesse.
eu queria que preferisse.
eu queria que tudo aqui fosse tão grande que nem tivesse espaço pra competição.

mas você quis.
e foi.
mesmo comigo querendo tanto que você não quisesse.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

mania de querer o que não foi, mesmo antes de não ter sido.....

Olho as fotos pensando em como tudo poderia ter sido.
Como poderia estar sendo.
Mas séra que poderia????

Dói pensar nas cores que não vejo.
Nos hidrocores que não pegam.
E mai ainda saber que eu destapei cada um deles - e que a tinta secou.
Não pelo tempo. Pelo mau uso.

Cada um dos hidrocores podiam estar colorindo.
Tantos pretos e brancos podiam estar coloridos.
Vivos.

Tanta vida podia estar sendo vivida.
Tantos risos podiam estar sendo ridos.
Curtidos.

E em tantos lugares. E de tantas formas.
Tantas e todas, menos essa aqui.

Sensação estranha.

E eu sei que o que há de errado não é com o mundo.
É em mim.

Mania de ver o que não foi.
De idealizar o que já não vai mais ser.
De sonhar com o que não será.
E que, se for, já não vou mais querer.

Enfim...
Sensação estranha.
Mania estranha de não conseguir ficar bem.

Que raiva!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

sobre o despreparo geral...

Às vezes eu acho que posso ter o mundo.
Deus me perdoe pela prepotência (mesmo!), mas putz!...

Tanto despreparo, tanta falta de organização e comprometimento. Falta de compreensão. Falta de bom gosto, de bom senso.

Sei lá.

Só não dizer se correr atrás de tanto preparo é ponto ao meu favor ou contra mim.

Às vezes tenho vontade de deixar de estar tensa e fazer parte da correnteza. Essa correnteza de despreocupados que lavam suas maõs, terceirizam maiores esforços e cumprem um papel muito bem determinado no todo, sem assumir o que não lhe cabe, sem se preocupar com o que não lhe convem. Que não entendem e estão tranquilos com isso. Que não conseguem, não sabem, e não se incomodam. Não buscam saber.

Mas não consigo ser assim ...
Enfim...

E, às vezes, eu acho que posso ter o mundo, rs...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sobre descongelamentos possíveis

Ontem assisti "Into the Wild".
História real - e essas sempre são as que mais fazem pensar.
Essas são as desprovidas da desculpa de ser apenas fruto da imaginação de alguém, porque, em sua essência, não são.
São fruto de experiência. De vivência. De realidade.
Chocante assim.
"Into the wild".
Não cabe aqui fazer uma sinopse - não é a minha finalidade.
Quero apenas uma observação. Uma análise. Constatação.
Um paralelo à vida. À minha. À sua. À de quem quiser.
Cansado do mundo, ou do sistema, ou das pseudo-verdades em que acreditamos, ou dele mesmo, um menino sai pelo mundo, depois de se formar. Não dá notícias. Não se despede de ninguém, não importa se é alguém "da base", ou se é um dos conhecidos em suas paradas.
Apenas transita entre espaços - não sei se buscando a liberdade ou fugindo dele mesmo. Acumula pessoas que o querem bem. Acumula carinho. Mas sempre parte. Sempre busca um desprendimento interno, uma "auto-felicidade" utópica.
Sempre parte.
Até que vai pro Alaska. Pro meio do nada. Ele e ele. Ele, o gelo, a caça.
"Into the wild".
E lá fica. Um ano. Sofrimento dos que, sem notícias, o amam.
Sentimento de culpa dos que, sem notícias, buscam um porquê.
E lá fica. Dois anos. Tentando encontrar o que ninguém consegue entender.
Sozinho. Buscando respostas, liberdade, felicidade, complitude, sei lá.
Buscando. Ingênua ou "egoisticamente" buscando.
Até que, um dia, encontra. Ou, sei lá se encontra, ou se dá conta de que não tinha muito o que buscar. Se abre pra ele o vazio daquele mundo de busca solitária que há dois anos ele sustentava. Ele percebe o vão de estar naquele gelo inóspito, fugindo e buscando dele e a ele, ao mesmo tempo. E decide voltar. Decide com alegria, como se tivesse encontrado no que sempre teve a resposta pro que sempre buscou.
"A felicidade só é felicidade quando é compartilhada".
Arruma suas coisas e parte. Mas, desta vez, pro retorno.
E caminha de volta. Caminha até se dar conta que o caminho traçado na ida agora estava descongelado. Caminha até perceber que o que antes era gelo, agora era rio. Violento rio, que o separava da possibilidade de retornar pro mundo e o forçava à voltar pra "busca".
Mas já não era isso que ele queria. E foi o que quis por tanto tempo...
Que ironia!
Ele já não era mais senhor das escolhas. O deserto, agora, era imposição.
E, agora, o maior desejo se voltava contra ele.
Maldita ironia!
E, daí, a valorização do que antes foi negado.
E, daí, a valorização do que antes foi tido como fútil e banal.
E que sempre esteve ali. Logo ali.
Depois de um tempo, ele morre. Morre preso. Preso na liberdade. Preso no seu sonho inconsequente.
Morre.
E eu, chorei. Putz! Chorei muito.
Como disse, um paralelo à vida. À minha. À sua. À de quem quiser.
Um paralelo.
Tantas vezes que achamos que estaremos pra sempre cercados de disponibilidades do mundo. De pessoas. De situações.
E seguimos em frente, contando com elas lá. Pequenas disponibilidades que nos conferem segurança, e que, muitas vezes, acreditamos que sejam tão eternas, que não olhamos. Não nos certificamos. Não zelamos.
E depois, quando queremos voltar, percebemos que deixamos o tempo passar e que o rio descongelou. Percebemos que a certeza que tínhamos, e que tínhamos até agora, existia apenas dentro da nossa ignorância. Percebemos que fizemos, ainda que sem ter consciência, uma opção. E lamentamos por termos optado sem optar, já que, pra gente, até então, estava mais pra uma postergação.
Enfim... percebemos que as escolhas cobram seu preço. Que não temos o mundo a nossa disposição....
Chorei. Lembrei dos meus rios descongelados. De pessoas queridas que eu achei que eram eternas e que não cuidei. Que achei que estariam pra sempre ali ou que eu não percebia a falta que iriam fazer. E que se foram. Simplesmente foram. Cansaram do meu egoísmo e de me assistir perdida nos labirintos criados por mim. E foram!...
E chorei. Lembrei de tantos rios que se mantiveram firmes. Tantas vezes que eu me perdi e que tinha tudo pra não voltar, mas que voltei. Agradeci a Deus por ter sido tolerante e ter mantido "congelados" rios que me trouxeram de volta à mim.
E chorei mais. Lembrei e agradeci também por todos os rios descongelados que eu consegui ter a força e paciência necessárias pra esperar a troca de estação pra poder regressar. Agradeci a aceitação. A serenidade. A paciência.
Mistura de choro de remorso e de agradecimento. De qualquer forma, choro de reconhecimento. De conscientização.
Chorei, por fim, por cada escolha do hoje. Pela re-descoberta do peso já sabido de cada ação. Se hoje opto por estar aqui, amanhã posso lamentar o descongelamento da possibilidade de voltar.
Um ode à responsabilidade para com os atos. À valorização.
É saber que toda opção implica em renúncias, e que temos que avaliar cada passo, pois em alguns momentos podemos voltar atrás... outros não...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

tempo less

acordo pouco depois de ter ido dormir.
chego no trabalho, pisco os olhos e tá na hora de sair correndo pra buscar o lucas.
pego o lucas e logo depois já tá na hora de fazê-lo dormir.
desmaio em seguida, pouco antes do relógio despertar.

antigamente o relógio era mais generoso comigo. juro que ele girava num compasso mais tranquilo. as horas comportavam minutos e os minutos comportavam segundos. hoje não. não dá tempo de enfiar minutos espremidos na hora que passa voando, corrida. e os segundos? arf! segundos são micropartículas imperceptíveis na velocidade frenética de tudo.

falta tempo pra respirar. falta tempo pra sentir. falta tempo até pra eu me achar no meio disso tudo e lembrar de mim.

incrível como a noite e o dia revesam entre o claro e o escuro num espaço de tempo cada vez mais curto. a única coisa que sei é que, geralmente, acordo de dia e durmo à noite. mas a transição entre os dois é algo tão rápido que me foge à percepção. de repente, quando ainda faltam mil coisas pra eu considerar o dia produtivo e concluído, olho lá pra fora e (ih!) tá de noite já. mas... já?!??!?!...

uma coisa atropela a outra tentando dividir espaço no meu dia. espremem - se entre si, buscando uma vaga na minha consideração. quase metrô da carioca às seis e meia.

(e não deu tempo de acabr o post pq eu tenho que ir dormiiiiirrr... não deu tempo... haha.... sutil ironia...)