sexta-feira, 13 de junho de 2008

Eu e a lagartixa

Fui tomar banho agora e, ao abrir a porta do box, deparei-me com uma lagartixa. Uma micro-lagartixa. O box, barulhento que só, deve tê-la assustado, e ela, que antes parecia perambular de um lado pro outro, ficou ali, paradinha.

Por mais que a pobre estivesse quietinha, não deixava de me atrapalhar. Estava num chão prestes a ser inundado, e, coincidentemente, no cantinho que o excelente caimento do meu banheiro faz formar uma poça pós-banho - por acaso o canto oposto ao ralo, rs, mas, tudo bem!...

Cheguei perto dela pra fazê-la se mover. Subir na parede, sair do box, sei lá... qualquer coisa que me permitisse retomar a intenção do banho. Mas não deu. Não sei se era lagartixa bebê e ainda inexperiente em subir em paredes, não sei se o bicho tem problemas com subir em azulejo, ou qualquer outra coisa... Só sei que ela não conseguiu subir, nem sair.

"Dei de ombros" (homenagem ao Léo, rs), virei as costas e fui ligar o chuveiro. Juro que tentei não me importar. Mas, nossa! Mil coisas na cabeça ao mesmo tempo. Tão pequenininha a lagartixa, devia ser filhote. Não que uma vida de filhote tenha mais ou menos valor que qualquer outra vida, mas é tão desprotegida.... E devia ter mãe, né? Imagine que ela esteja esperando o lagartixinho filho em casa... imagine se ele não voltasse??! O desespero que deve ser - nessa hora lembrei do dia que perdi o Lucas na praia nos 10 minutos mais longos da minha vida!...

Enfim... virei o chuveiro pra ligar e desvirei antes da primeira gota tocar o chão. Ah!..Eu não ia viver com o peso da vida daquele lagartixote nas costas.!...

Bom... eu tenho que tomar banho e a lagartixa não consegue sair dali... logo... eu tenho que tirar a lagartixa. Fato!.. Mas.. como??? Tentei incentivá-la a subir na parede, mas definitivamente ela não tava se entendendo com o azulejo, rs. Então, medida de emergência! Peguei uma revista para tentar colocá-la em cima e transportar segura pra longe da enchente em iminência do meu merecido banho!!!...

E, isso tudo que escrevi até agora era introdução pro ponto central da questão: a cena deu tentando salvar a lagartixa e dela, visivelmente desesperada, fugindo das minhas insistentes tentativas de salvamento.

Bom.. considerando que a pobre lagartixa, dentro das limitações dos instintos dela, estava se sentindo super ameaçada, é lógico que ela tava aterrorizada. Não estava entendendo o que estava acontecendo, não compreendia o intuito final da ação, e, simplesmente, fugia.

Tava me dando pena do desespero dela. Tadinha!!! Lutava bravamente pra manter sua vida dentro dos padrões que considerava normais, sem saber que aquela normalidade a levaria prum afogamento; e sem saber que, naquele momento, era necessário que ela não entendesse o que tava acontecendo, que confiasse, pra se salvar.

Aí, quando eu tava ali, vendo aquela lagartixinha apavorada, eu pensei em Deus. Pensei em como todos nós somos lagartixinhas desesperadas pra ele, guardadas as proporções. Em como existe uma lógica de funcionamento muito maior do que a gente é capaz de entender, e em como a gente se desespera achando que a limitação do que julgamos "normal" deveria prevalecer.

Pensei em Deus tirando a gente de enxentes-chuveiros diárias, sem que a gente nem saiba o que estava por vir. Nele nos protegendo, nos cuidando. E, inevitavelmente, pensei na gente reclamando.

Cara... aquela lagartixinha, absolutamente amedrontada, deve estar com raiva de mim até agora. Eu fui totalmente contra o que ela esperava, forcei-a a subir numa revista, a conduzi ali em cima, sem segurança aparente, sem entendimento consciente, sem nada que justificasse pra ela o porquê. Eu sabia o que estava por vir, mas ela, provavelmente, nunca vai entender. Só entende o desvio que aquilo gerou do seu plano padrão, e só.

E nós acabamos sendo meio assim. Quantas vezes reclamamos muito porque as coisas saem diferente do que queremos? E quantas vezes será que essa diferença não foi realmente o que fez toda diferença, movida para o bem por quem tem uma amplitude infinitamente maior de compreensão?

Ah, sei lá!... Muito interessante me colocar no lugar da lagartixinha no meu box-mundo regido pela minha pseudo-razão. E ainda mais interessante ainda, sob este foco de visão, considerar que a lagartixa só conta com seus instintos, desconhecendo completamente qualquer possibilidade de explicação. E que nós, seres pensantes, contamos com a idéia de Deus, contamos com a sua salvação. E mesmo conhecendo, sabendo, vendo, e muitas vezes até mesmo crendo, ainda temos uma absurda dificuldade de aceitar que o que foge ao nosso controle pode ser a maior expressão de sabedoria e salvação!......






3 comentários:

Unknown disse...

Somos realmente ignôrantes e indefesos ao tal ponto de não perceber a salvação diaria que nos e imposta a cada momento.

Valdecir disse...

Naquele momento uma pequena lagartixa serviu pra te mostrar o quão somos frágeis e ao mesmo tempo, o quão somos importantes. Todos nós temos limitações e todos nós temos um papel importante pra Deus

ebenézer ferreira disse...

Muito lindo e oportuno!