quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Blasé não mais!...

Um ano, praticamente. Um ano sem postar. Um ano sem escrever. Um ano fugindo do compromisso de (tentar) me ver.
Na verdade um ano em que eu preferi simplesmente estar no curso, sem buscar muito tentar entender a latitude ou a longitude psicológica da ocasião. O frenesi interno constante chegou a um ponto tão cansativo, que me fez simplesmente parar. Abstrair. Levitar. Não sentir. O "universo frenético do dentro-entorno de mim"[1] chegou ao limite e extrapolou as medidas da sanidade.

"Queria a descrição perfeita que me fizesse enxergar e que me ajudasse a perceber tudo que tá dentro de mim. / Tudo aquilo que gira aqui dentro, mas que parece ser a minha volta, sem que eu me misture nem faça parte. Apenas um filme, rápido, em torno da minha mente. / Me deixa tonta e não me deixa perceber cada uma das cenas. Elas apenas passam, enquanto eu tento conseguir captar. / E é tão rápido que acho que, ainda que eu conseguisse, não me satisfaria, pois deixaria alguma coisa passar."[1]

O mecanismo interno de análise constante sucumbiu à pressão. O que antes era avidez por definições e ansiedade pela apreensão de cada pequeno estímulo, foi aos poucos se cansando. Foi se arrastando até transformar a percepção, antes próxima, numa "vida distante acontecendo"[2].

"Hoje tá tudo meio distante. / Os sons, as cores, as imagens. / Tudo distante e frenético ao mesmo tempo./ Assisto às pessoas como se eu estivesse numa bolha. / Como se não fizéssemos parte do mesmo meio."[2]

Por fim, cansada demais da resistência nas trincheiras psicológicas, me rendi. Declarei a vitória da homogenização imposta pela dinâmica social contemporânea e recolhi a bandeira pela qual lutava com orgulho. Me calei, abaixei a cabeça e me deixei levar pelo transe. Me enquadrei. "Zumbi"[3].

"Quando entra-se na vida, / quando tudo se mistura com o dia, / quando tudo simplesmente acontece / e quando a sucessão de fatos não permite que a eles se sobreponha uma análise inteligente / fica o vazio da ação automática de uma repetição de rotina. / Fica a falta do ego inflado pela perspicácia de uma auto sacação. / Fica só um acorda e dorme zumbi. / Nada mais."[3]

Entre me render ao piloto automático e parar de me olhar foi um passo. Era mais fácil não ter o trabalho de constatar a rendição. A partir daí, então, foram muitos passos num estado de espírito alheio a tudo - seja do mundo ou de mim. Tem sido, na verdade. Sensação de que nada me afeta ou me interessa muito. De que tudo está distante. De que a vida está sendo vivida pelo acúmulo de dias que passam, mas sem muita energia no seu desenrolar. Nada é exatamente visto, pensado, avaliado. Nada é exatamente sentido. Nada é exatamente relacionado. Blasé.

Me olho no espelho e não me reconheço. Me recuso a acreditar que estou vendendo os meus tesouros tão barato assim. A cada nova estação, um novo desejo vazio. Uma nova causa furada. Desvalorização absoluta do tempo, que antes sempre foi tão estimado. Me recuso a acreditar que isso é tudo que eu tenho pra mim.

Blasé não mais!...

[1] Postado em 24/08/08
[2] Postado em 14/11/2008
[3] Postado em 09/07/2009