quarta-feira, 4 de junho de 2008

tenho que fazer alguma coisa

Eu tenho que fazer alguma coisa!
Não tenho a mínima idéia do que é, mas certamente é alguma coisa.
Tem um vazio incômodo demais aqui na barriga, que sobe, reverberando até a garganta, dando um nó e concentrando ali todas as energias emanadas. O fluxo é constante e a concentração é crescente. E tenho a sensação que, tendo a necessidade de vazar pra algum lugar, essa onda de sei lá o quê que vai da barriga até a garganta, faz o corpo todo tremer por dentro. Treme a respiação, treme o pensamento, treme o cálculo dos movimentos. Tudo condicionado ao centro-barriga de tensão e ansiedade.
Ninguém vê de lá de fora.
Sorrio e as pessoas até acreditam, rs.
Mas aqui dentro eu sei. Eu "vejo". Eu sinto essa bomba relógio de angústia que me faz ter essa certeza insistente de que eu tenho que fazer alguma coisa!
E que merda de certeza seletiva é essa, que não é agradada com nenhuma das iniciativas, por mais elaboradas que sejam.

Tenho que fazer alguma coisa, e, por mais que eu tenha uma listagem de todas as pendências (as urgentes e as mais urgentes ainda) da minha vida, nenhuma delas se encaixa de maneira atrativa nessa busca por algo que vá me acalmar. Aliás, pelo contrário: pensar nas pendências só me faz enumerá-las de maneira desesperadora, aumentando o vazio-tremor da barriga, e, consequentemente, acrescendo o grau de emanação de pulsos de energia pra garganta - o que, por sua vez, aumenta o tremor e a inadequação frente à qualquer uma das hipóteses de atividade para aquele determinado momento.
Tenho que fazer alguma coisa, mas minha mão tensa nem se fecha, tamanha a dificuldade de lidar com olhar por cima de tudo que se tem que fazer, sem conseguir, efetivamente, ter a serenidade e o centro para cuidar de uma por vez de maneira sã e consciente.
E o nó na garganta fecha. E o pensamento confunde.
E, ai! Como eu odeio ficar assim!!!.....

Na verdade, me analisando a longo prazo, eu percebo que momentos assim antecedem, algumas vezes, bons momentos. Ao menos nos últimos anos que tenho conseguido de uma maneira bem melhor canalizar de forma construtiva a angústia de não conseguir resolver o mundo num piscar de olhos. Eles vêm pra me mostrar como é importante a constante auto-avaliação (pra não deixar acúmulos desestruturantes em todos os âmbitos) e me fazem conseguir, ainda que aos trancos e barrancos num primeiro momento, organizar um pouquinho de dentro de mim.

Bom... isso quando a tensão tende a construir e quando eu consigo transformar a força-tremor numa força-esforço de concetração analítica das causas e consequências...
Tem também quando eu esqueço. Não posso fingir que não. Tem quando eu jogo a ansiedade pra baixo do tapete e tento distrair a atenção (e a tensão). Quando eu transformo a força-tremor numa força eufórica que passa por cima e esconde tudo. E que passa. E quando passa, às vezes, nem volta pro vazio na barriga - ele até pode ter passado naquele momento também. Mas ele volta!... Mais cedo ou mais tarde, se não trabalhado, ele volta!...
Maldito vazio-tremor angustiante!... Cobra seu preço, cobra seu esquecimento, puxa o pé e diz que não vai te deixar em paz enquanto não encarar!...
Unf! Maldito!...

E agora tô meio assim... tô numa rebordose de umas três crises de vazios-tremores curadas com euforia desmedida e infundada e distração mal encaixada empregada, e, tendo cobrado aqui o meu protótipo de malandragem com juros e correção!...

E eu tenho que fazer alguma coisa! E me falta o ar, e não consigo nem pensar numa solução! Eu só tenho que fazer alguma coisa! E mesmo sabendo que fazer sem se organizar é uma fuga pra não pensar... ainda assim ecoa: eu tenho que fazer alguma coisa.
E é ambíguo.
Se faço alguma coisa (qualquer coisa!) e encontro uma brecha na condição de procurar sem encontrar adequação, ou seja, se encontro algo que consiga por alguns minutos concentrar a atenção, é fuga, é remendo, é tapar a visão. E ao mesmo tempo se eu parar pra organizar é tão cansativo, e a energia empenhada é tanta, e eu já estou tão sugada, que me falta motivação.

A motivação é o certo, eu sei. A motivação é fechar os olhos e conseguir distinguir entre o que eu quero e o que é o melhor (tão opostos tantas vezes!), eu sei. Mas, putz!.. Que dureza me motivar com a justificativa do que deva ser a motivação!... E que pior ainda admitir a dificuldade de assumir acertar a opção.

Cacete!!!!!!! Que merda ter que escolher a direção estando, ao mesmo tempo que consciente, imersa no eco da repetição...

E eu tenho que fazer alguma coisa!!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Caralho, só falando assim.

Cabeça, vc é muito foda! (devo admitir)
Vária vezes tive a sensação de ter que fazer alguma coisa. Mas daí expressar essa sensação de forma tão brilhante... Nunca nem parei pra reparar no efeito que causava.
Mostrei seu blog pra minha mãe e agora ela é viciada em ler suas postagens. Amou esses textos.
Agora deixa eu ir "tenho que fazer alguma coisa". rs

Ingrid