terça-feira, 16 de novembro de 2010

Oração

Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que eu não posso modificar;
Coragem pra modificar aquelas que eu posso;
E sabedoria pra reconhecer a diferença.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ódio

Sinapses aceleradas
Falta de ar
Dentes trincados.
- Inquietude.

Ondas de calor 
Sobressaltos no peito
Vingança na alma.
- Ansiedade.

Mão fechada forte
Vontade de não ser
E de rosnar, de surrar e de morder.
- Impulso (de me perder).



 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

passes x chutes

Assistindo ao jogo de futebol de hoje* ouvi uma descrição fantástica: "eles não lançam, eles se livram da bola".

Quando ouvi eu entendi, encaixei no contexto da partida específica e dos chutões meio sem planejamento sendo dados, achei graça, mas quase perdi a brilhante chance de realmente aproveitar a deixa. A oportunidade de olhar e pensar nas minhas atuações dentro deste contexto.

Até que ponto lido com as situações da nossa vida como um "lançamento", de uma forma coerente e estruturada; e até que ponto simplesmente "me livro da bola", de maneira desesperada, como se as decisões fossem batatas-quentes e as atuações se limitassem ao cumprimento da missão de passar pra próxima? Sem análise, sem mensurar consequências, sem ter um objetivo a ter atingido - nada! Até que ponto ajo apenas pela necessidade última de agir, quase que como uma reação necessária, mas sem o mínimo de consideração com as implicâncias num plano geral?....

Até que ponto eu me livro da bola?


* Brasil x Ucrânia, Milton Leite narrando....

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

fim

sempre dói o fim
até o fim do que já doia
porque fim
é sempre um fim

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

defesa quase cruel

Há vezes em que a vida te atropela, como um rolo compressor.
Ela simplesmente te esfrega na cara uma realidade
da qual, nem que você quisesse, conseguiria fugir.
Te impõe uma verdade sem te dar a mínima pista
de como agir a partir dali.

Te desnuda o padrão e te tira o chão.
Cruel assim.

Fico meio sem saber se eu agradeço o parto da percepção
ou se eu maldigo o tempo em que se deu.
Fico sem saber como agir.

Eu, que sempre me orgulhei das minhas opções,
pega no flagrante no golpe mais baixo.
Tendo as entranhas da minha crueldade
explicitadas em voz baixa, numa simples constatação.

Não teve grito, não teve raiva, não teve nada.
Teve apenas eu, me envergonhando de mim.

De todas as muletas que com o tempo fui cerceando,
ficou a sedução.
Ficou o jogo,
a sensação.

Ficou o prazer sádico de ir até onde fosse preciso
pra ter o que eu queria.
De um jeito quase cruel,
sem consideração.

Ficou o estranho dom de transformar os sentimentos alheios
em massinha de modelar.
E a estranha defesa de apenas assim,
conseguir me encontrar.

Necessidade de controle.
Medo da decepção.

E agora não sei mais como agir.
Como quem não sabe onde, em público, colocar as mãos.
Não sei.

Momento daqueles em que é preciso abaixar a cabeça,
aceitar a verdade,
renunciar ao padrão.

É estranho perceber que eu não sei ao certo quem eu sou
sem lançar mão de comportamentos que eu mesma não aprovo.

Não me imagino tendo a nobreza de respeitar limites
quando quero alguém.

Ainda que eu saiba que não haja correspondência
nas estratificações do querer - o que torna tudo injusto,
egoísta, desumano,
não me imagino.

Talvez pra conseguir sobreviver na selva
eu tenha ficado mais selvagem do que eu gostaria.

Talvez.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Blasé não mais!...

Um ano, praticamente. Um ano sem postar. Um ano sem escrever. Um ano fugindo do compromisso de (tentar) me ver.
Na verdade um ano em que eu preferi simplesmente estar no curso, sem buscar muito tentar entender a latitude ou a longitude psicológica da ocasião. O frenesi interno constante chegou a um ponto tão cansativo, que me fez simplesmente parar. Abstrair. Levitar. Não sentir. O "universo frenético do dentro-entorno de mim"[1] chegou ao limite e extrapolou as medidas da sanidade.

"Queria a descrição perfeita que me fizesse enxergar e que me ajudasse a perceber tudo que tá dentro de mim. / Tudo aquilo que gira aqui dentro, mas que parece ser a minha volta, sem que eu me misture nem faça parte. Apenas um filme, rápido, em torno da minha mente. / Me deixa tonta e não me deixa perceber cada uma das cenas. Elas apenas passam, enquanto eu tento conseguir captar. / E é tão rápido que acho que, ainda que eu conseguisse, não me satisfaria, pois deixaria alguma coisa passar."[1]

O mecanismo interno de análise constante sucumbiu à pressão. O que antes era avidez por definições e ansiedade pela apreensão de cada pequeno estímulo, foi aos poucos se cansando. Foi se arrastando até transformar a percepção, antes próxima, numa "vida distante acontecendo"[2].

"Hoje tá tudo meio distante. / Os sons, as cores, as imagens. / Tudo distante e frenético ao mesmo tempo./ Assisto às pessoas como se eu estivesse numa bolha. / Como se não fizéssemos parte do mesmo meio."[2]

Por fim, cansada demais da resistência nas trincheiras psicológicas, me rendi. Declarei a vitória da homogenização imposta pela dinâmica social contemporânea e recolhi a bandeira pela qual lutava com orgulho. Me calei, abaixei a cabeça e me deixei levar pelo transe. Me enquadrei. "Zumbi"[3].

"Quando entra-se na vida, / quando tudo se mistura com o dia, / quando tudo simplesmente acontece / e quando a sucessão de fatos não permite que a eles se sobreponha uma análise inteligente / fica o vazio da ação automática de uma repetição de rotina. / Fica a falta do ego inflado pela perspicácia de uma auto sacação. / Fica só um acorda e dorme zumbi. / Nada mais."[3]

Entre me render ao piloto automático e parar de me olhar foi um passo. Era mais fácil não ter o trabalho de constatar a rendição. A partir daí, então, foram muitos passos num estado de espírito alheio a tudo - seja do mundo ou de mim. Tem sido, na verdade. Sensação de que nada me afeta ou me interessa muito. De que tudo está distante. De que a vida está sendo vivida pelo acúmulo de dias que passam, mas sem muita energia no seu desenrolar. Nada é exatamente visto, pensado, avaliado. Nada é exatamente sentido. Nada é exatamente relacionado. Blasé.

Me olho no espelho e não me reconheço. Me recuso a acreditar que estou vendendo os meus tesouros tão barato assim. A cada nova estação, um novo desejo vazio. Uma nova causa furada. Desvalorização absoluta do tempo, que antes sempre foi tão estimado. Me recuso a acreditar que isso é tudo que eu tenho pra mim.

Blasé não mais!...

[1] Postado em 24/08/08
[2] Postado em 14/11/2008
[3] Postado em 09/07/2009