quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Condor"

"Condor".
Fui ver hoje.

Documentário sobre a operação existente na América do Sul na década de 70, unindo as ditaduras e fazendo com que houvesse algo muito além de um sistema de troca de informações entre os países. Uma verdadeira operação de cooperação mútua e de incentivo geral às políticas de repressão violenta à qualquer possível manifestação socialista.

Retrato de tudo aquilo de ruim que a gente ouve que o ser humano é capaz de fazer, mas que nunca acredita que seja realmente capaz de acontecer.
Tortura, violência, desrespeito aos direitos humanos. Sequestros, desaparecimentos, mortes. Vidas e almas roubadas. Mães sem filhos, filhos sem mães. Tristeza. Dor. Desespero.

E eu ali, engolida pela tela do cinema que me cuspia o que eu já sei, o que holocaustos já me disseram, mas que sempre faço questão de esquecer: como podem ser desumanos os humanos.
Eu ali acompanhando relatos, imaginando as dores, sentindo os dramas. Eu ali meio sem entender nada, ainda que, como já foi dito, os livros de história e tantos outros filmes já tivessem me contado. Faltava-me um "porquê". Mas algum poque de verdade, satisfatório mesmo. Não me venha com governo repressivo, porque que ele tem que ter um motivo. Não me venha com tentativa de contenção ao socialismo em tempos de Guerra Fria, pq tb não basta. São vidas! Vidas! Almas! São sonhos, esperanças, centelhas divinas. E não existe sistema ou cifra que justifique isso. Não existe motivo suficiente, por mais que tentem me dar e por mais aceitos historicamente que eles sejam.

Não me basta o porquê dos fatos. Esses são poucos e pobres. Queria entender o porque dos sentimentos. Queria entender o sentimento que faz uma pessoa maltratar outra pessoa. Humilhar, escurraçar, violar. O que move? O que justifica? O que pensa? Em que acredita? Ah! E essa é boa: Como continua conseguir vivendo tirando vidas? E tirando, quando eu uso o termo aqui, das mais diversas maneiras possíveis de se tirar. Não tô falando só de matar de "morte matada". Tô falando em matar roubando as almas, condenando futuros, destruindo famílias, levando desgraça. Além de matar de fazer morrer, como consegue-se viver também tirando a vida das vidas?

Enfim... Me dá asco. Me dá raiva. Me dá pena e rancor ao mesmo tempo. Pena e rancor da "humanidade" com sua mediocridade infinita (como se eu não fizesse parte dela, rs). Mas, enfim.. Pena e rancor da NOSSA mediocridade infinita.

Tudo tem a haver com a economia, e não adianta dizer que não. Jogo de poder, que acaba se resumindo a jogo de quem tem mais, pra mandar mais.

Tanta dor, desgraça e destruição pra poder manter um sistema (uma análise barata, eu sei, mas nem tenho a pretensão de que seja diferente). Pra poder manter uma porra de um sistema, cara. Como assim???

Olho tudo de cima agora. Imagine a paisagem vista de um avião. O mundo tá lá, lindo, como sempre. Árvores verdinhas, entrecortadas por rios que se projetam sinuosamente por entre a massa verde. Montanhas, planícies, planalto. Animais. Pessoas. Condições de vida perfeita. Tomando emprestado de Gandhi, cada um com a sua parcela reservada, sem precisar de abusos ou de privações. OK! Cenário ideal demais, eu sei. Mas quando olho tudo lá de cima é o ideal que eu vejo. E me pergunto: Por que que não pode simplesmente funcionar??? Por que que não há um senso, uma ordem comum a todos, sei lá. Ah!!!... E eu sei que existem os Estados e que cada um deles tem a confiança da sua população para cuidar dos seus direitos que a ele confiados quando houve a privação da liberdade e blá blá blá. Mas por que então que tem que haver guerra entre os Estados? Por que que não pode todo mundo se dar bem, ser amiguinho e tal, porra????

E aí vem a grana. A ganância. A ambição. Movidas por um sistema que se fortalece justamente nas vaidades humanas. E aí vem o desentendimento. A discórdia. A luta pelo espaço, seja ele físico, financeiro ou qualquer outro que quiser. E aí eu condeno. Aciono uma crítica já inerente de mim a tudo que me cerca e condeno o sistema, o homem e sua mediocridade, enfim.... condeno, condeno, condeno. Critico, critico, critico. Coisa bem de Mariana mesmo, rs.

E aí eu acordo e lembro de Levi Strauss, que disse pra gente olhar bem pra dentro de um ser humano quando quiser conhecer a todos. E aí olho pra mim e percebo a minha gigante insatisfação com a minha TV de 14'' - Como não é de plasma e de 32''? E percebo que não estou satisfeita com meus quase 20 sapatos - falta um verde, né? E percebo que realmente acredito que ganho pouco, mesmo sendo mais que grande maioria da população. E percebo que maldigo meu apartamento que me abriga tão bem. E percebo que quero tudo que ainda não tenho e que já tenho a prévia noção que cada um desses ítens serão automaticamente substituídos assim que os tiver. Enfim... e me percebo tão inserida em tudo que critico que me incomodo muito.

Lembro de um namorado que tive, que se dizia anarquista. Adorava desenhar o "A" com uma bola em volta onde quer que estivesse, rs. E, ao mesmo temo, rio por dentro quando lembro que o meu anarquista era louco por motos esportivas e babava nos modelos mais ostentadores, coloridos e com os canos de descarga mais esquisitos e brilhantes. Lembro-me ainda do "advogado do Diabo" (adoro o filme!) com o Pacino, na pele do diabo, falando "Vaidade! Meu pecado favorito!". E é!...

E aí, considerando isso tudo, eu penso que a tão proclamada igualdade que eu defendi há cinco minutos atrás não se adequa sequer a mim. Que eu também tô
na luta desenfreada pelo acúmulo de cifras. Que eu também quero ter um carro do ano. Que eu também quero um apartamento de quatro quartos decorado com móveis caros. Que quero fazer parte do que condeno, entende?

Cara, que louco esse dualismo. É a "ambivalência afetiva" de Freud em "totem e tabu", rs. É eu condenando a mim por ser quem eu sou e quem eu sei que sou, tão diferente do que eu deveria ser. Que merda isso!... Estou nessa corrida, ao mesmo tempo que correndo, assistindo e difamando os corredores. E eu sou essa e aquela, sem uma definição de limites muito clara. Antes pudesse dizer que há uma linha tênue, mas não. Se fundem. Se misturam. Entrelaçam. Quase que como dois caracóis trepando e vc não sabe mais qual caracol é um e qual é o outro, rs. E essa sou eu. Sim. Bem sem saber assim!........

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