sexta-feira, 8 de agosto de 2008

qual era mesmo a graça?

Poucas coisas me deixam mais tensa do que a adequação necessária da correria do dia à responsabilidade de, independente de como, independente de a que custo - independente de tudo, na verdade - ter que estar na porta da escola do meu filho pra buscá-lo, pontualmente, no horário da saída.

Às 10 da manhã eu já estou contando os segundos e planejando como vou cronometrar os passos entre a saída do meu trabalho e o meu rostinho sorridente e pontual no portão amarelo.

Depois disso, uma outra coisa que me deixa tensa é a certeza de que, também tão independente de qualquer fator quanto o dado exposto anteriormente, o teto máximo do meu horário de sono é às oito. Sábado, domingo, sol, chuva, frio, calor: oito! Sete e meia, pra ser mais cruelmente exata!...

Vou dormir já resmungando pra mim os murros de realidade que cada um dos raios de sol da manhã seguinte vão vir dar na minha cara, determinando de maneira pouco delicada a sentença pesada do despertar prematuro pra mais um dia.

Por fim, uma terceira tensão: a certeza de que, ainda que transbordando de ânimo e de disposição, ainda que com o corpo implorando pra seguir o ritmo perfeito de alguma batida dançante, e ainda que com o desejo de extravasar toda alegria e sensualidade contida, eu não vou poder sair à noite. N-ã-o! Não importa qual a proposta, qual a festa, qual o show, qual a boa - não!!! Filminho da TV. No computador, se eu quiser sentir um pouquinho de aventura em baixar alguma cópia e saber que adentrei o campo do proibido, rs. Nó máximo! Não mais que isso!...

Tudo por assumir a responsabilidade de tê-lo. Tudo por assumir o compromisso de cuidar e educar. Tudo por ser mãe.

E é muito louco como isso se dá!...

Lucas foi passar a semana com o pai. Foi levar aquela luz branca e mágica que vem dele pra lá.

E eu agora, tô aqui. Sentada. Escrevendo. Tudo que eu sempre olho lá do outro lado do rio, como se fosse distante e inalcançável - e que eu lamento tanto o ser - está aqui. Atravessei o rio!!... E que sem graça o lado de cá.

Tô "livre". Posso chegar em casa a hora que quiser. Posso ficar no trabalho sem me preocupar. Posso dormir até o meio dia. Posso ir ao cinema. Posso ir à festas. Posso dançar. Posso degustar. Posso quase tudo. E... e... e... e o que??? E daí?!?!???...

E... qual era a graça mesmo de poder????...

Rs... muito curioso isso!

Cadê a minha finalidade noturna??? Cadê meu sorrisinho encantado??? Cadê os olhinhos de esperança e magia me esperando guiar e ao mesmo tempo me dizendo a direção???

Ah!!! Que sem graça isso aqui!!! Que flores mais sem cheiro, que grama mais espetenta, que rio mais sem peixes, este do lado de cá. De lá de longe parecia tão legal. Parecia que tudo seria tão mais tranquilo. E que nada! Que sem graça isso aqui!!!...

Vou chegar em casa (tô no trabalho ainda, às nove da noite!...)... e...? E o quarto vai estar apagado. E a casa vai estar vazia. E o pedaço mais lindo de mim não vai estar lá...

E eu volto a perguntar... E qual era mesmo a graça??????

2 comentários:

Luciana Andrade disse...

Querida
Nós seres humanos somos muito paradoxais mesmo. Volta e meia me égo querendo tanto uma coisa. Mas quando ela chega.. E aí? Por que eu queria mesmo?
Vamos nos ver sim!
Bj enorme e boa semana

Gislaine disse...

Nossa...
A única coisa que tenho a lhe dizer é: parabéns!
Você é muito corajosa e tenho certeza que sua vida é mesmo muito iluminada, principalmente por esse amor que emana das suas palavras quando vc fala do seu pequeno!

Eu sou filha de mãe solteira, não conheço meu pai nem por foto, sabe... Admiro todas as mães que encaram essa batalha porque é a VIDA que pede passagem, apesar de todas as adversidades do mundo lá fora!

Beijos! :D