terça-feira, 29 de julho de 2008

beijos não são batmans

Por favor, alguém me ensine a ser mãe!
Alguém me ensine a saber lidar com ter que educar, acarinhar, mostrar, direcionar e trabalhar pra sustentar... e tudo ao mesmo tempo!...
Alguém me ensine como fazer, como proceder, como medir, como dosar, como arcar!... Me ensinem, por favor!

Meu filho é lindo. É gostoso, é cheiroso, é a criança mais esperta, engraçada, fofinha e com tiradas brilhantes. Meu filho é tudo pra mim. É o que me faz acordar de manhã, engolir seco o saco cheio, respirar fundo e me enquadrar. É o que faz eu voltar pra casa à noite. É o que justifica tudo. É o que me faz querer ser melhor. É o que me dá esperança. É o que compensa a solidão. É o que quebra minha raiva, o que me dá forças, o que adoça o desgosto. É ele. É filho. Quem tem sabe o que é.

E eu não consigo me imaginar mais mãe. Eu tento ser o melhor de mim. Eu sou dura quando tenho que ser e me derreto todas as outras vezes. Eu abro mão, renuncio tudo que eu queria tanto fazer - e Deus sabe como eu queria! - por saber que faz parte de um ideal muito maior e por amar esse idealzinho mirim mais que tudo. Não tenho mais noites de festa nem manhãs de sono. Aliás, muito mal tenho noites de sono, indo mais pro campo da normalidade....

E, como toda mãe moderna, classe média, e separada da união que nunca nem aconteceu, eu ralo. Ralo muito. Ralo firme. Ralo bem. Saio às sete, quando o sol acabou de dar as caras. Volto às sete, quando ele acabou de ir. E, já na subida dos muitos lances de escada que separam a portaria do meu prédio do meu apartamento (no último andar de um sem elevador!), eu vou repetindo pra mim que ele não tem nada a haver com toda a frustração, cansaço, dores e raivas que eu possa estar. Já subo ensaiando o sorriso, resgatando a disposição e estabelecendo uma separação entre o lar e o não-lar, buscando ser (e dar) o melhor de mim. Já subo me preparando pra participar e afastando a tentadora idéia de me jogar na cama. Já subo imaginando o sorrisinho mais lindo que vai estar lá pra me receber, e subo mais rápido só de pensar naquele corpinho pequenininho se mexendo perfeitamente e casando palavrinhas, formando frases perfeitas, surpreendendo a cada dia... Já subo pra ele, e simplesmente por ser pra ele.

E eis que chego em casa ante-ontem e me deparo com meu filho se despedindo da babá com um beijo. Um não. Vários. Acompanhando-a pelo corredor e gritando "tchau" enquanto ela sumia na escadaria sem fim.
... E me recebendo pedindo um Batman igual ao do João Pedro!!!
E, na minha tentativa de abraçá-lo forte, com um sutil empurrãozinho, ele retornou ao Batman do João Pedro!...
E, mesmo com uma resposta meia boca minha de "depois a gente fala do Batman" e com o meu pedido sorridente por um beijo, mais uma vez, o maldito Batman do João Pedro!!!!...

Porra! E o MEU beijo???...

Lógico que, numa má separação do binômio mulher moderna já exposto entre o lar e o não-lar, eu despejei, numa bronca exagerada, que eu era mãe e não banco. Que ele está muito mal acostumado, que ele tem muitos brinquedos e blá blá blá...

Bronca exagerada porque eu trouxe, na longa extensão não citada do "blá blá blá", toda a frustração do resultado vazio de um esforço absurdo. Trouxe a raiva por ralar igual a uma corna pra pagar aluguel, luz, gás, telefone, escola e, inclusive, a amada babá, e ter, em troca, a imagem de viabilizadora de conquistas materiais pro meu filho. Beijo??? Não!!! Eu quero é Batman!!!
E como doeu!!!...

Depois da extensa bronca, ele dormiu. E eu chorei. E eu tentei entender esse mundo. E eu tentei entender a lógica em trabalhar o dia inteiro pra poder dar tudo pra alguém, tendo como preço mais caro, a distância deste mesmo alguém. Eu juro que eu tentei entender... Aliás... eu juro que tô tentando até agora!... E eu sei que é qualidade e não quantidade. Clichêzão, eu sei. Mas dói perceber que os beijos tão virando Batmans. E eu não quero deixar isso.
Não quero!!!!...

2 comentários:

Luciana Andrade disse...

Ei querida!
Duro esse mundo né? Mas se isso te consola eu nunca vi mãe mais dedicada do que você. E Deus sabe e eu também sei bem, quantas inúmeras abdicações você fez e vem fazendo. A vida as vezes nos prega surpesas e por melhores que elas sejam sempre vêm acompanhadas de " the price I have to pay..."
E não se trata aqui de preço de batmans e sim de preço dos beijos ou da ausência destes.
Mas.... Uma boa notícia! Sempre há um outro lado, embora muitas vezes não se consiga vê-lo!
Te amo!

Anônimo disse...

nem consigo imaginar o tamanho dessa dor... consigo me lembrar q devo ter provocado dessas inúmeras vezes nos meus pais. =/

pelo menos minha mãe não tinha a babá pra dividir os beijos..

isso foi esses dias, outros dias ele é só beijos pra vc. :)
tudo culpa da mãe do joão pedro! aquela q dá tudo o q o joão pedro pede e compra os beijos dela assim..
fala sério!

sou muito mais vc! ;)

beijos, mariana!