terça-feira, 10 de março de 2009

anoitecimento

Não se vê o anoitecer. O acontecimento do processo. Apenas constata-se que houve, após.
Os olhos acostumam-se tão aos poucos que já é noite. Assim, no susto.

E assim é com a gente. Não vemos as mudanças. Não percebemos. Vivemos no ciclo dos dias e nos atentamos depois pra quem (agora) somos. Constatamos que passamos a ser. E depois contrapomos com quem éramos.

Daí mensuramos a mudança - a subtração do presente com o passado, e nos deslumbramos com o quão sorrateiro foi o desenrolar do processo.

Bom... "É assim" não... Costuma ser...

Mas é estranho quando se vê o anoitecer. Quando a consciência não se distrái um segundo e percebe cada nuance da alteração da coloração do céu. Quando se percebe cada centésimo da diferença presente x passado antes o todo possa ter sido encontrado na subtração do processo concluído.

É estranho quando percebemos o nosso anoitecer. Quando nos damos conta dos gostos gradativamente se alterando. Das vontades, dos objetivos, das aspirações, preferências e percepções em plena mutação. Quando a gente coloca em cheque o tempo todo aquilo que sempre defendemos ser, dando espaço a uma nova percepção que nem mesmo nós conhecemos.

E, pior! É estranho percebermos passo a passo que estamos tão próximos de tudo que sempre julgávamos (e jurávamos!) tão longe, e que sempre, em nome do espírito revolucionário, manteríamos assim... Estamos tão... tão próximos!... Tanta caretice, tantos desejos batidos, tantas vontades comuns, tão igual à todos...

Chego a rir da Mariana que ia mudar o mundo. E o pior é que rio justamente no meio do processo de percepção de como ela está se enquadrando que a risada vem, e não no distanciamento da de antes pra de depois. É no processo. É ainda estando com um pé lá, no lugar-chacota. Ainda agindo um pouco como a mariana-chacota, mas já sem a conduta caber bem.

E é estranho assim... perceber o "anoitecimento" de mim!

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